Por: Almeida Henriques
Cumprindo uma tradição de muitos anos, a Assembleia Municipal comemorou os 36 anos do 25 de Abril em Ranhados, subordinando ao tema dos 100 anos da República o evento.
De facto, a história não se repete, mas há factos que continuam actuais, senão vejamos.
Acusada de servir a Inglaterra, a monarquia constitucional começava a ser vista como responsável pela decadência militar e financeira, sentia-se, por todo o país, o descontentamento da população.
Em 1876 um grupo de amigos descontente com o regime liberal português formam o Partido Republicano Português e diferentes factos levam à queda da Monarquia.
A falta de preparação de D. Manuel para reinar, as intrigas dos que o rodeavam e o número crescente de simpatizantes do Partido Republicano bem como o contexto de instabilidade política, económica, social, religiosa e cultural de Portugal durante uma época de profundas transformações políticas, avizinhava que a revolta estava eminente, o que veio a acontecer no dia 5 de Outubro de 1910.
Assiste-se a um período muito rico, com muitas mudanças legislativa, que não conseguiu durar muito, não foi capaz de explorar as colónias sem a ajuda do capital internacional, o que aumentou a dependência económica.
Fundos estrangeiros controlavam sectores importantes da economia, o povo continuou a emigrar, o que denota falta de esperança ou de perspectiva para ver resolvidos os seus problemas mais prementes.
Apesar de a Primeira República ter sido uma experiência impar, a situação que se vivia abriu a porta ao golpe fascista não necessitou de empregar violência para conquistar o poder político.
A Revolução dos Cravos, que implanta a Terceira República Portuguesa, que corresponde ao actual regime democrático, representou o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.
Foi elaborada uma nova Constituição, aprovada e decretada a 2 de Abril de 1976, que garante os direitos fundamentais dos cidadãos, estabelece os princípios basilares da democracia e assegura o primado do Estado de Direito democrático.
Este brevíssimo registo histórico dos 100 anos da República leva-nos a um sentimento de já termos visto este filme, cem anos da República, com três fases distintas, uma de sonho, uma segunda de cinzentismo e uma terceira em que o sonho renasce.
Trinta e seis anos depois, muito se conquistou, liberdades, desenvolvimento, uma nova organização, mas a incerteza é imensa.
Temos hoje um País triste mergulhado na incerteza da grave situação financeira e no ruído constante que não deixa descortinar uma saída.
Nestes momentos difíceis, é sempre bom evocar a nossa longa história de quase 900 anos, o facto de sermos o País da Europa com fronteiras definidas há mais anos, a nossa capacidade para dar novos mundos ao mundo, podendo mesmo afirmar-se que fomos os precursores da globalização há 500 anos.
É bom que nos inspiremos na história do 25 de Abril, da consolidação da Democracia, da capacidade que tivemos para integrar cerca de um milhão de Pessoas oriundas das ex colónias, da nossa adesão exemplar à União Europeia (éramos mesmo considerados um Bom Aluno), da entrada na moeda única, para só me referir a estes marcos.
Nos dias de hoje, teremos que ser capazes de dar a volta à difícil situação que vivemos, acreditando em nós e no País.
Sem dúvida que teremos de reduzir a despesa, fazer quase um regresso às origens, apostando na nossa indústria transformadora, regressando ao sector primário, sem nos esquecermos dos nossos serviços, para que possamos exportar mais e produtos de maior valor acrescentado mas, ao mesmo tempo, procurando substituir importações por produtos nacionais, um desígnio que deve ser de todos.
Trinta e seis anos depois, quando devíamos estar a celebrar os nossos feitos, vivemos com uma nuvem cinzenta e com a incerteza.
Não podemos esmorecer, temos essa obrigação face à nossa história, face aos nossos filhos e face às gerações vindouras.
Extractos da intervenção efectuada na Comemoração dos 36 Anos do 25 de Abril, na Assembleia Municipal de Viseu
*Deputado do PSD
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