opinião

MAS É POR TODO O LADO!

Por: Hélio Bernardo

Passam os dias, as semanas, os meses e os anos, e lá se vão sucedendo, como que de um modo verdadeiramente imparável, as apreensões de estupefacientes, e de tipos os mais diversos. Um ambiente que tive a oportunidade de observar, mais uma vez e de um modo simples, nesta terça-feira em que o Benfica deu mais um passo essencial na sua caminhada para um novo título nacional.
De resto, uns dias antes havia tido lugar em Gouveia mais uma detenção de sete jovens estudantes com algumas centenas de doses de drogas, na antecâmara de um festival onde participaram estudantes do ensino secundário e de todo o País. Um ambiente mais que propício e absolutamente a condizer.
Foi até com graça que pude escutar as palavras, acertadas mas tardias, de José Manuel Anes, que acompanha, entre outros fenómenos, o da grande criminalidade organizada, em que o tráfico de estupefacientes continua a manter lugar de grande destaque. Mas não teria de ser assim...?
Claro está que com a progressiva aplicação do modelo neoliberal, como já todos podem ver à saciedade, e com o desenvolvimento da globalização, naturalmente incontrolável, a pobreza e a miséria teriam de crescer, e de um modo profundo. Uma realidade que já se pode também observar por todo o nosso País, onde boa parte da juventude, até da mais qualificada, se deu já conta de que, por aqui, não terá futuro.
Não deixa, pois, de ser fortemente doloroso assistir à miríade de idosos que, a um ritmo já diário, se vêem na contingência de ter de andar de um lado para o outro, sempre olhando esquivamente para quantos consigo se cruzam, levando o que lhes é incumbido, naturalmente em troca de uns poucos de euros para poderem enfrentar as agruras do fim da vida. Um cenário dolorosamente revoltante. Ao que nos conduziu a tal dita democracia...!
Ao mesmo tempo que tudo isto se pode ver ao dia-a-dia, chega-nos a (mais que natural) notícia de que a instituição que tem por função ajudar os que precisam dos seus meios para sair da sua terrível dependência das drogas, afinal, estará sem dinheiro... Ao que chegou a tristemente célebre doutrina do doentinho...!
No entretanto, e mais uma vez, um outro Governo - o atual - dedica-se a criar nova legislação destinada a combater a corrupção, dando a entender que será desta que o problema se sumirá. Promete, mesmo, apoios complementares a quem queira colaborar com as autoridades no combate à criminalidade - é o momento de se esboçar um sorriso. A oposição, naturalmente, parece acreditar... E não foi sempre assim?
Pois, palavras não eram ditas, e eis que nos chegou a notícia de que dois holandeses, desde há uns tempos detidos no Algarve sob a acusação de tráfico de estupefacientes, e agora postos em liberdade, terão acusado certo agente infiltrado de ter atuado como provocador. Verdade? Mentira? O leitor lembra-se dos filmes policiais norte-americanos? E é capaz de comparar?
O que é certo, e que todos percebem bem, é que pouco ou nada funciona capazmente, num autêntico processo dinâmico com raízes históricas e muito longínquas. Não há melhor prova do que a recente decisão do Governo de José Sócrates, de mandar taxar as mais-valias bolsistas. Afinal, do que é que esteve o Governo à espera?!
Por fim, a nossa televisão: para quando aquela excelente ideia que Mário Crespo colocou em tempos a Fernando Negrão, e que este de pronto apoiou. Ou seja: quando é que se dá início a uma campanha vasta, audível e eficaz, contra o consumo e o tráfico de estupefacientes através dos canais televisivos? E porque não tomam esses canais, para lá da vontade governativa, a iniciativa? E por onde anda a oposição? E que é feito da palavra das associações de magistrados? E o que tem a dizer o Presidente da República? E os futuros candidatos a este lugar? Nada?!!