crime mas não se lembra do que fez
O estudante universitário acusado de assassinar a ex-namorada há cerca de um ano, em Coimbra, declarou-se hoje culpado, mas disse não se lembrar do crime, cometido num «quadro depressivo e de ansiedade aos exames»
O jovem, de 24 anos, começou hoje a ser julgado pelos crimes de homicídio qualificado e detenção de arma proibida, devido ao esfaqueamento até à morte da ex-namorada, colega de curso, por esta se recusar reatar a relação.
Hoje, perante um tribunal de júri, o estudante de Engenharia Civil, natural de Viseu, disse que os «dois grandes objectivos» da sua vida eram a «(ex) namorada e a Faculdade».
«Quando me lembro desse episódio (o crime), parece que uma branca me passou pela cabeça. Quando parei tinha a faca de serrilha na mão, pensei ‘não posso ter sido eu’, mas não estava lá mais ninguém», afirmou o arguido, acompanhado por um psiquiatra de Coimbra desde meados de 2006.
A vítima, que completaria 21 anos em Março passado, foi esfaqueada até à morte na manhã de 18 de Setembro de 2007, depois de ter sido atraída pelo arguido, com quem mantinha um relacionamento amigável, para uma urbanização em início de construção, junto ao Pólo II da Universidade de Coimbra.
De acordo com a acusação, o arguido arrastou-a depois para junto de uma giesta, abandonou-a e deixou para trás a faca de cozinha que furtara de casa de um amigo, pondo-se ao volante do seu automóvel.
Com as vestes ensanguentadas, ao cruzar-se com uma patrulha da GNR - Escola Segura, inverteu a marcha e disse «prendam-me que eu matei uma pessoa».«Quando chegámos (ao local do crime), o suspeito estava todo ensanguentado, parecia saído mais de um filme de terror, pouco mais se via do que os olhos dele», descreveu hoje uma inspectora da Polícia Judiciária (PJ) de Coimbra, testemunha no processo.
O arguido parecia «calmo e sereno, num estado bastante consciente e lúcido», acrescentou a inspectora.
A faca encontrada no local, por indicações dadas pelo arguido, tinha a «lâmina curvada», o que para dois inspectores da PJ de Coimbra hoje ouvidos em tribunal é revelador da violência do crime, ao qual a vítima tentou resistir. Perante a insistência de um dos juízes sobre as «falhas» de memória sobre o que se passou, o arguido justificou que «deve ter ficado cego» com o «estado de ansiedade e nervosismo» que sentia na altura.
«Todos os dias penso nela, como fui capaz de uma coisa tão bárbara», declarou, emocionado.O advogado de defesa apresentou o seu constituinte como um aluno com um «rendimento escolar acima da média» no Secundário, que começou a revelar «sintomatologia depressiva» e «ansiedade aos exames» já nas provas de acesso ao Ensino Superior.
«A conselho do psiquiatra Allen Gomes», disse o causídico, chegou a suspender os estudos em 2006, mas um ano depois, perante a aproximação dos exames, revelara um «carácter cada vez mais depressivo e ansioso», tendo pensado suicidar-se por duas vezes.
A ex-namorada «era o verdadeiro amor da sua vida, o seu apoio e suporte, solidária, muito afectiva, não desarmava perante as adversidades», mas «nunca apoiou a ida (do arguido) ao psiquiatra», acrescentou o advogado de defesa.
Mesmo detido, o estudante prossegue o curso universitário, continuando a receber acompanhamento médico-psiquiátrico.Peritos médicos do Hospital Psiquiátrico de Coimbra - pólo do Lorvão concluíram «não ser possível excluir a imputabilidade em razão de anomalia psíquica», mas hoje a defesa apresentou um novo relatório psiquiátrico médico-legal elaborado, a título particular, por Francisco Santos Costa.
Pelo crime de homicídio qualificado o jovem incorre numa pena de prisão que o tribunal poderá estabelecer entre 12 e 25 anos.
Lusa / SOL
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