quinta-feira, 5 de março de 2009

Família ameaçada de despejo por ter a casa suja

Empresa municipal foi a tribunal justificar a acção com situações passíveis de ameaçar a saúde pública

Por: TERESA CARDOSO in "JN"
Três moradores do Bairro Municipal ou da Cadeia, no centro da cidade, correm o risco de ficar sem tecto por terem a casa suja. O despejo sumário segue no Tribunal Judicial de Viseu. A autarquia justifica a acção com a defesa da saúde pública.

Está marcada para o dia 21 de Abril, no Tribunal Judicial de Viseu, a segunda sessão do julgamento relativo ao processo sumário de despejo de uma família que mora na casa nº 51 do Bairro Municipal. A acção é movida pela empresa municipal Habisolvis que alega vários incumprimentos dos inquilinos, nomeadamente no que respeita à higiene e salubridade do imóvel, para intentar o seu despejo sumário.

A ir por diante o processo, três pessoas poderão ficar na rua: uma mulher de 39 anos, o companheiro de 80 e um primo deste de 50 anos. "Se nos tirarem daqui, não sei o que vai ser da nossa vida. As assistentes sociais dizem que o meu homem pode ir para a casa dos filhos e eu para a da minha mãe, em Aveiro. Mas não vamos aceitar. Estamos juntos porque gostamos um do outro e ninguém nos vai separar", garante Maria Reis Esteves.

Anteontem, na primeira sessão do julgamento, técnicos da Habisolvis lembraram alguns aspectos dominantes da acção de despejo, nomeadamente a falta de limpeza.

"Dizem que nos deram a casa em bom estado, com sanita e tecto novo, e que nós estamos a dar cabo dela com a porcaria dos gatos. Não é verdade. É certo que umas vezes está mais limpa do que outras. Mas isso acontece com toda a gente. No nosso caso, o problema está no telhado que deixa entrar a água por todos os lados. Por isso é que temos a roupa amontoada pelos cantos e os baldes espalhados pela casa", defende-se a inquilina.

A residir na habitação há meia dúzia de anos - desde que ardeu a casa onde o companheiro vivia, no mesmo bairro -, Maria Reis perdeu o trabalho de auxiliar hospitalar e depende da reforma de 300 euros que o homem recebe.

"Temos dificuldades, mas vamos sobrevivendo. Agora um pouco melhor, desde que a Santa Casa da Misericórdia decidiu ajudar-nos com a oferta do jantar todos os dias, e do almoço aos fins de semana", relata a mulher.

A pagar 1,20 euros de renda, Maria Reis pede à Habisolvis mais uma oportunidade. "Arranjem-nos uma casinha em melhor estado, que há muitas vazias no bairro, e verão que saberemos cuidar dela", promete angustiada.

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