terça-feira, 29 de setembro de 2009

ALÔ? ESCUTO...



Presidente faz declaração hoje, às oito da noite.


Socialistas querem que Cavaco esclareça tudo, para "dissipar" dúvidas sobre o caso. Vitalino Canas diz que o ónus está sobre a Presidência


Uma declaração solene ao País, em horário nobre de directos televisivos. Esta foi a forma escolhida pelo Presidente da República para quebrar, hoje às 20 horas, um longo silêncio. A nota emitida ontem pelo Palácio de Belém nada diz - tem, de resto, três curtas linhas - sobre o tema da formal comunicação. Mas foi o suficiente para que todos, socialistas e sociais-democratas, pedissem um cabal esclarecimento do caso da alegada vigilância a Belém.
Sem hesitações, o PS colocou já o ónus sobre o Presidente: "É claro que toda a gente aguarda com curiosidade. Mas este esclarecimento interessa mais ao Presidente, porque é ele que está sob pressão", afirma Vitalino Canas ao DN. Ontem à noite, na SICNotícias, houve mais dirigentes socialistas a pedir contas a Cavaco - Alberto Martins, que disse ser "muito importante um esclarecimento, para que todas as dúvidas sejam dissipadas de forma consistente".
Manuel Alegre concorda: "O Presidente deixou uma sombra. Há aqui uma suspeição. É bom que tudo seja esclarecido", disse ontem.
Mas a dúvida central volta agora, mais do que nunca, a colocar-se: o que dirá Cavaco aos portugueses? No núcleo mais próximo de José Sócrates apontam-se duas hipóteses - e em nenhuma das duas o resultado é bom para o Chefe do Estado. "Ou há alguma coisa muito grave, e aí vai questionar-se porque não o disse antes; ou nada desta polémica teve sentido nenhum, e aí a montanha pariu um rato", analisa um alto dirigente do PS.
Mas a "perplexidade" face à evolução do caso, e à forma como ele tem sido tratado pelo Presidente, levanta dúvidas para lá do Largo do Rato. Carlos Jalali, politólogo, diz estranhar "que o Presidente não tenha dito ainda nada" sobre o assunto. "Mas Cavaco Silva sempre funcionou usando o silêncio como arma política", lembra. Há, é claro, casos de maior sucesso - "como o prolongamento da dúvida sobre se seria candidato presidencial, que funcionou como rampa de lançamento". Mas também "casos que não resultaram tão bem", como o do "tabu" sobre a recandidatura a São Bento, em 1995, e o da vigilância a Belém, sustenta ainda o mesmo especialista.
Quem promete atenção máxima ao discurso desta noite são os sociais-democratas. Pacheco Pereira, que chegou a pedir a Cavaco que esclarecesse a polémica antes de acabar a campanha, disse ontem à noite que essa declaração será "importante para saber o que se passou". E Paulo Rangel, um dos mais próximos de Manuela Ferreira Leite, admitiu ter "expectativa" face ao teor do discurso. Sendo certo que, quanto ao PSD, a polémica promete cenas dos próximos capítulos. Sobretudo quando vários dirigentes já pedem contas ao PR na derrota das legislativas.

in "DN"

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