A nossa querida Feira de S. Mateus é assim mesmo!
É o rodízio da diversão que continua a encher os olhos dos miúdos e dos graúdos, mais as «cenas» dos masoquistas ou aventureiros (vá-se lá saber!) que pagam bilhete para a volta alucinante/impressionante, com os eles e elas a estrebuchar por todo o lado no meio de uma berraria infernal... enfim... O que é certo é que quando as engrenagens abrandam o ritmo, é vê-los a deitar mão ao bolso, procurando mais umas moeditas para mais uma volta de euforia e loucura salutar!
A nossa Feira é sempre uma mistura indecifrável de odores inimagináveis e indescritíveis. São os fritos, são os fumos, é tudo aquilo que se nos entranha nas roupas, na pele e na alma. É, enfim, tudo o que nos marca, como ferro em brasa, e marca a meninice e marca a juventude. Marca e marca até que a morte nos separe. Esta é a "nossa" feira. Goste-se ou não.
- Humm…cheiras a farturas… vens da feira! – e depois as enguias que nos deixam com água na boca só de pensar em lhes afinfar uma trinca, e que, propositadamente, se oferecem nas suas barraquinhas de rosto antigo (melhoradas em condições, claro!) para permanecerem fiéis à tradição!
A Feira é o emaranhado de gente que se atropela, que ri e que chora, enquanto se lambuza com o frango assado e o pão com chouriço, esquecendo, por um dia? por uma noite? – que seja! - as agruras de um quotidiano nem sempre agradável.
É o choro, os gritos, as birras dos mais pequenos, seguidos dos tabefes, sonoros ou abafados, de misericórdia ou não para os ouvidos de todos nós, parolos de uma santa terrinha que tanto maldizemos. Mas... tanto maldizemos como amamos e, em dia de feira, mesmo cheirando mal dos sovacos, cansados e cobertos de pó, brindamos esfuziantes com mais um copo, corpo abandonado a uma dança estranha e ondulante, da bebedeira ou da música que rodopia no ar e toma conta dos nossos sentidos – Ruth, Quim, Rancho ou outro qualquer.
É tudo isto que nos alegra o espírito e nos faz sentir que ali, naquele momento, nada mais interessa a não ser receber de braços abertos o que a Feira tem para nos oferecer. E nós queremos. Queremos até mais não. Queremos sentir o cheiro das farturas, ouvir as engrenagens dos carrosséis, rir da música parola que as bancas teimam em passar, regatear o pechisbeque, gozar do bêbedo que mal se segura nas canetas e vai discursando para o poste de iluminação, andar a coscuvilhar pelas barracas enquanto se faz tempo para ir às enguias, apreciar a arte de quem trabalha à mão e pensar que cada luz (vermelha, azul, amarela…) que ilumina o nosso rosto está ali, tão somente, para nós mesmos brilharmos com a Feira!
Mas, certo, certo, é que não falhamos com a nossa presença!... Esperamos o ano inteiro pela Feira de S. Mateus!... enchemos o recinto para ouvir a tal pimbalhada, de que afirmamos não gostar (é de bom-tom criticar esta cambada e a outra!), andamos de água na boca o ano inteiro para afinfarmos o serrote numa fartura, e nem nos lembramos dos fumos e dos cheiros.
Erguemos os olhos para o céu e em silêncio contemplamos o fogo de artifício, e somos surdos a todo o barulho!
…Nós somos assim, somos os parolos da Beira!... tecemos críticas à organização, nunca nos agradamos do programa, dizemos que é sempre a mesma coisa, que estamos fartos de Feira…E depois…bem, depois instala-se a melancolia quando disparam os últimos foguetes e segue o adeus àquela que nos acarinhou durante 42 dias!... e num desabafo triste dizemos "agora só para o ano!".
Se tudo isto não é gostar da Feira, meus amigos, porque raio teimamos em lá ir?!
Por: Cláudia Sofia, madeinviseu
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