quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Greve nacional dos alunos do básico e secundário

Comunicado de imprensa
Hoje decorreu em Viseu a maior manifestação de estudantes que a memória dos presentes recorda. Superou a mediática de 4 de Novembro de 2008. Alunos de seis escolas estiveram presentes, com adesão quase total nas escolas secundárias, e representativa nas básicas. Cerca de 4000 alunos concentraram-se no Rossio de Viseu, onde deram conhecimento das suas reivindicações ao Presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas. De seguida a manifestação deslocou-se para a frente do Governo Civil de Viseu na Rua Alberto Sampaio. Em anexo segue caderno reivindicativo, entregue aos acima mencionados, e enviada por correio para o Presidente da República, Ministra da Educação e Primeiro-Ministro. Segue também em anexo flyer de informação aos alunos. Em nome da Associação de Estudantes da Escola Secundária Viriato, fica a vontade de continuar o debate e a reivindicação, prometendo desde já a marcação de um encontro regional de Associações de Estudantes e alunos do Ensino Básico e Secundário. Em breve enviaremos fotografias e vídeos da manifestação Com os melhores cumprimentos, o presidente da AEESV André Mateus

Vários alunos e associações de estudantes presentes das seguintes escolas:

Escola Secundária de Viriato
Escola Emídio Navarro (Comercial)
Escola Alves Martins (Liceu)
Escola Azeredo Perdigão(C+S Abraveses)
Escola Grão Vasco


O QUE ELES REIVINDICAM



Democracia nas escolas!

O director não é eleito de forma democrática, os alunos não participam na sua eleição. Propomos um modelo mais justo onde o conselho executivo seja eleito por representantes dos alunos, professores e pessoal auxiliar, sem interferências externas à escola.


Maior Investimento nas Escolas!

Defendemos uma maior aposta na educação. No Orçamento de Estado a verba para a educação quase não aumentou (só 0,8%), e sendo o sistema de ensino o pilar essencial da sociedade achamos que devia ser uma aposta prioritária.


Onde pára o Ensino Gratuito?

A Constituição da República Portuguesa prevê o ensino gratuito. E nós perguntamos com manuais obrigatórios por disciplina a 30€ onde está a gratuitidade?
Máximo de 22 Alunos por Turma!

Com menos alunos por turma, temos uma melhor aprendizagem, melhor acompanhamento de cada aluno, logo melhores resultados! Uma escola para aprender, não só para avaliar!


Avaliação Realmente Contínua!

Os exames nacionais têm uma importância excessiva, sobrepondo-se à avaliação contínua, por isso achamos que deveriam ter menos peso na avaliação, não colocando em risco vários anos de estudo.


Aulas de Substituição Injustas!

Ocupam-nos o tempo, simplesmente por ocupar, sem sentido nem lógica. Era mais proveitoso que o aluno escolhesse como melhor aproveitar o seu tempo entre várias opções dentro da própria escola (informática, desporto, leitura, salas de estudo, lazer…).


Direito à Falta Justa!


Qual a diferença entre as faltas justificadas e injustificadas?
É necessário distinguir o “justo do pecador”, não sujeitando as faltas justificadas, com razão válida, a provas de recuperação, contando apenas as injustificadas para esta prova.


Educação Sexual!


Foi uma vitória dos estudantes, esta já existe nos papéis, não na prática.
Exigimos um gabinete de atendimento de apoio e esclarecimento por escola (a funcionar pelo menos um dia por semana), com técnicos qualificados para o assunto, onde sejam fornecidos métodos contraceptivos gratuitamente.
Deixamos em aberto o debate:
Como vão professores retrógrados, machistas ou homofóbicos dar aulas de educação sexual? (a actual lei prevê que a E.S. seja transversal a todas as disciplinas)

______________________

A CARTA REIVINDICATIVA

______________________

Ao/Á:
Governo Civil de Viseu - Miguel Ginestal
Ministra da Educação - Isabel Alçada
Primeiro-Ministro - José Sócrates
Presidente da República – Cavaco Silva

Com conhecimento:
Presidente da Câmara Municipal de Viseu - Fernando Ruas

Assunto: Caderno Reivindicativo

Como é do conhecimento geral, hoje dia 4 de Fevereiro, é dia nacional de luta dos alunos do básico e secundário, convocado pela DNAEESB – Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário e Básico.
Em Viseu, por iniciativa própria, das Associações de Estudantes e de grupos de alunos não organizados oficialmente, houve a necessidade de expressar a vontade e sentimentos dos alunos. Depois de vários diálogos/debates/conversas chegou-se aos pontos consensuais que unem o descontentamento de tod@s os ouvidos, bem como a necessidade de as expressar através de uma greve e concentração/manifestação no Rossio de Viseu e em frente ao Governo Civil.
A expressividade dessa manifestação é a que podem assistir.
E antes de enumerarmos as causas que nos movem, esperamos que no decorrer da manifestação não ocorram casos de excessos por parte das forças de autoridade que, como é sabido, a 4 de Novembro de 2008, usaram força excessiva nas escolas Alves Martins e Infante Dom Henrique, causando respostas menos ordeiras e esporádicas de um número reduzido de alunos.

Caderno Reivindicativo

O que nos move é a democracia! É este o ponto essencial e transversal das nossas reivindicações.
Pensamos que um ensino eficaz é aquele que respeita todos os intervenientes, e sendo os alunos os principais visados pelas políticas educativas, achamos que devemos ter voz!

O actual modelo de gestão escolar criou novas hierarquias nas escolas, criando a imagem do Director, eleito por um conselho geral onde entram “personalidades externas à escola”. No antigo sistema, com as falhas que pensamos todos reconhecer, os alunos tinham representatividade na eleição do concelho executivo, logo do presidente da direcção, tendo também representatividade na Assembleia de Escola.
Exigimos a revisão deste Modelo de Gestão, e queremos ter uma voz (e voto) na eleição, bem como representação, em todos os órgãos de direito da escola. Não aceitamos influência externa à escola, logo este concelho geral não pode existir. Queremos Democracia na gestão das escolas!

O actual estatuto dos alunos aplicou várias injustiças. A mais evidente é sem dúvida a indiferenciação entre faltas injustificadas e justificadas. Achamos que as justificadas não devem ser motivo para a realização das provas de recuperação.
Achamos também que se o estatuto considera justas faltas dadas para participação em actividades associativas, achamos que as associações de estudantes devem ter legitimidade para as justificar. Omisso ficou o facto de para a participação em assembleias gerais de alunos ser motivo de falta justificada, assembleias que são um pilar da democracia nas escolas, e que agora está dependente da boa vontade do director e dos professores, legitimando as pressões e sanções daqueles que se sentem incomodados com a voz dos estudantes.
Propomos que o ministério da educação reveja o estatuto dos alunos com os visados, os alunos.
Queremos um estatuto do aluno Democrático e justo!

Vimos a educação como o principal pilar de uma sociedade. O sistema de ensino pode catapultar a médio e longo prazo um país, ou pode conduzi-lo ao falhanço, salvá-lo da crise, ou deixá-lo no seu lodo.
O Orçamento de Estado para 2010 aumentou as verbas para a educação em apenas 0,8%, valor insignificante, visto a importância da aposta na educação. Queremos um país de gente bem formada, onde as suas qualificações correspondam às suas capacidades, e para isso precisamos de todos os recursos possíveis para uma boa aprendizagem. Equipamento, animadores socioculturais e culturais, psicólogos, formados em educação para a sexualidade, margem de manobra para os projectos próprios das escolas.
Não queremos escolas com empresas privadas no interior para financiar as actividades escolares, o ensino não é um negócio.
Uma boa aposta no sistema de educação é também uma aposta na Democracia.


Queremos uma avaliação realmente contínua. Os exames nacionais têm uma importância excessiva, pondo em causa vários anos de estudo. Estes exames acabam muitas vezes por afastar os alunos do ensino superior, quando o objectivo é que eles não desistam do ensino. Esta falha é ainda mais grave sabendo que o acesso a maiores de 23 está facilitado, não necessitando de exame de entrada.
Propomos uma diminuição das percentagens dos exames no acesso ao ensino superior, bem como na nota final das disciplinas onde estes são obrigatórios.
Queremos Democratizar o acesso ao ensino superior.

A Constituição Portuguesa prevê o direito ao ensino gratuito. Com cada manual obrigatório a custar cerca de 30€ este direito não é real. Isto aplica-se a todo o material necessário para o normal funcionamento das aulas, despesas elevadíssimas agravadas em cursos específicos como Artes e Desporto, lembramos que a falta de material é uma falta injustificada.
Cumprir a constituição é uma obrigação da Democracia.

Para um ensino mais eficaz propomos um máximo de 22 alunos por turma. Com menos alunos numa sala de aula temos melhor acompanhamento de cada um deles, aumentando assim aprendizagem e o sucesso escolar. Esta medida acabaria por aumentar o número de professores empregados, e numa altura onde o desemprego ultrapassou os 10%, todas as medidas que o diminuam são essenciais para a saída da crise.
Aumentar o tempo de atenção por aluno, permitindo que todos participem é Democracia.

As aulas de substituição são uma medida que se revela inútil e prejudicial. Na sua aplicação o único objectivo visível é a de fechar os alunos dentro de quatro paredes. Nós achamos que é muito mais útil o estudante decidir como melhor aproveitar o seu tempo, conforme o que acha mais necessário, dentro da escola, seja aproveitando os recursos como as salas de informática, bibliotecas e salas de estudo ou para socializar, pois o ensino não deve limitar a aprendizagem do individuo.
Fechar os alunos sem sentido não é Democrático.

Numa altura onde várias personalidades políticas e da sociedade civil se preocupam com a falta de interesse pela política, aplicar o que decretam seria um bom exemplo.
A Educação Sexual já está legislada, aliás há décadas, mas referimo-nos á última, que não se encontra aplicada.
Exigimos a criação de um gabinete de apoio, que em cada escola esteja aberto, pelo menos, um dia por semana, onde sejam distribuídos gratuitamente métodos contraceptivos, em especial o preservativo.
Mesmo sendo aplicada, esta educação transversal está destinada a falhar. Como vai um professor que pela sua “natureza” é homofóbico, machista e/ou retrógrado ser um bom educador para a sexualidade? Achamos que este ensino tem de ser dado por profissionais qualificados da área.
Propomos a integração de um profissional na área em cada agrupamento de escolas. Profissional que fica incumbido de fazer o atendimento no gabinete de apoio.
Defendemos também o aumente de horas deste ensino, propondo aulas de educação sexual no 4º, 6º, 9º e 12º, sem que para isso aumente a carga horária dos alunos.
Aplicar a legislação é Democracia.


Com os melhores cumprimentos, esperando uma resposta aos nossos anseios,

Alunos das escolas:

Secundária de Viriato
Emídio Navarro
Azeredo Perdigão
Grão Vasco
Alves Martins
Infante Dom Henrique

Sem comentários: